A importância do BNDES para o Brasil nos anos 1950 | Vídeo
Depoimentos de Cleantho de Paiva Leite e Juvenal Osório Gomes para o Centro de Memória BNDES em 27.4.1982.

Quando o BNDES foi criado, em 20 de junho de 1952, o Brasil era bem diferente. De lá para cá, de forma bastante rápida, inúmeras mudanças foram desencadeadas ao mesmo tempo, em diferentes áreas. Foi nesse momento que o país começou a ficar moderno.
O vídeo abaixo traz trechos de uma entrevista concedida por dois ex-empregados do Banco que estiveram presentes no início da trajetória da instituição. Os depoimentos foram coletados em abril de 1982 e abordam questões que demonstram a importância e o valor agregado pelo BNDES ao projeto de desenvolvimento nacional.
Entrevistados:
Cleantho de Paiva Leite, economista, foi diretor do BNDES entre 1953 e 1956. Retornou à Diretoria do Banco em 1958, exercendo o mandato até 1962.
Juvenal Osório Gomes, economista, ingressou no BNDES em 1953. Dedicou seus estudos à área do desenvolvimento econômico, com ênfase em infraestrutura, industrialização e formação de novos técnicos por meio de uma atuação conjunta com a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal). Exerceu cargos importantes também no âmbito do Governo Federal.
Se preferir, leia a transcrição do vídeo
Cleantho: acho que a importância (do BNDES para o país, nos anos 1950) foi decisiva, sob três aspectos. Em primeiro lugar, o Banco constituiu-se talvez no primeiro núcleo de análise racional de problemas econômicos do Brasil com uma vinculação prática, chegando a tirar conclusões dessas análises e partir para a ação através de financiamentos dos projetos de desenvolvimento econômico; não era uma análise puramente acadêmica ou inconsequente. Eu acho que essa foi a primeira contribuição do BNDES, herdando toda aquela técnica de análise de projetos que foi de certa maneira transmitida através da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, absorvendo experiência da CEPAL, atendendo aos padrões e exigências das instituições internacionais de financiamento, etc. Esse é o primeiro aspecto da importância do BNDE. O Segundo aspecto foi a criação de uma consciência nacionalista dos problemas brasileiros. A crise do sistema mundial que se acelerou a partir da guerra da Coreia, e a crescente identificação de uma área de conflito entre os objetivos nacionais e os interesses consolidados no mundo dos países industriais, trouxe a consciência das divergências do projeto nacional em relação ao projeto estrangeiro para o Brasil. Assim, acho que o BNDE teve um papel muito importante na formação dessa consciência nacionalista das nossas prioridades, dos nossos desafios. O terceiro aspecto que me parece muito importante foi a contribuição que o BNDE deu para a formação de pessoal e de instituições, como o Banco do Nordeste, os bancos regionais, os bancos estaduais de desenvolvimento. Essa foi uma contribuição importante, porque num país com as dimensões do Brasil, a criação de focos, de núcleos de estudos de problemas de desenvolvimento e de ação a favor do desenvolvimento nas regiões, no Nordeste, no Sul, nos estados, foi em grande parte, um efeito multiplicador da ação do BNDE na formação de pessoal e na ajuda à criação de novas instituições de financiamento de desenvolvimento econômico.
Juvenal: eu gostaria de acrescentar ao que ele disse, que através dessa equipe que se reuniu no BNDE e começou a debater os problemas brasileiros no decorrer da década de 50, nós conseguimos de certo modo conhecer melhor e ter uma consciência mais clara, mais nítida, não só de quais eram os problemas de desenvolvimento econômico do Brasil, as, principalmente, dos meio e modos de contornar ou enfrentar esses problemas.