O efeito China nas exportações de países latino-americanos
O economista Filipe Lage, do Departamento de Pesquisa Econômica do BNDES, investigou o “efeito China” sobre as exportações do Brasil, do Peru e do México, em estudo publicado na série Textos para Discussão (TD). O autor procurou analisar como o fluxo de exportações chinesas para os EUA e a União Européia (UE) afetou a participação de três países latino-americanos nesses mercados e, ainda, entre esses mesmos países.
Intitulado A inundação de produtos chineses e seus impactos nas exportações de outros países: uma investigação ao nível da firma, o trabalho utiliza microdados de empresas do Brasil, Peru e México, em contraposição a dados sobre a participação de mercado chinesa (ChinaShare), contemplando período que vai de 2000 a 2007. A escolha dos países a serem analisados buscou dar conta dos principais acordos comerciais existentes: Mercosul (Brasil), Comunidade Andina (Peru) e NAFTA (México).
Segundo Lage (na foto ao lado), a atuação da China representou um dos principais choques de comércio dos últimos anos e teve impacto mundial.
“Para cada 1% de crescimento (participação) da China para todos esses mercados, as firmas dos países estudados perdem 0,8%”, destacou o autor, durante apresentação do TD realizada no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no dia 26 de setembro.
No evento, ele discutiu os principais resultados do estudo, assim como a metodologia utilizada. Com base no gráfico a seguir, Lage ressaltou que a partir da entrada da China na Organização Mundial de Comércio (OMC), em 2001, foi possível observar um incremento relevante na participação de mercado chinesa nos EUA e UE, ao passo que Brasil, Peru e México se mantiveram estagnados.
Fonte: UN Comtrade
A análise mostrou também que, em termos relativos, o efeito China sobre as exportações dos três países foi maior para a UE do que para os EUA. Já em termos absolutos, as perdas no mercado americano foram bem superiores, alcançando valor total de cerca de US$ 9 bi, em comparação a uma redução de US$ 1,8 bi na UE.
Ainda de acordo com Lage, quando o destino eram os EUA, as exportações do México foram menos afetadas do que as do Brasil e do Peru, o que poderia ser explicado pela existência do NAFTA. No caso da UE, o impacto foi menor sobre o Peru, fato que o autor atribuiu à baixa sobreposição do tipo de produto exportado em relação à China.
Ao final do evento, o economista citou que em uma possível extensão do estudo gostaria de “tentar avaliar melhor se acordos de comércio conseguem, efetivamente, atenuar esses efeitos de choque de comércio internacional”.
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