Relato integrado: visita do CEO do IIRC, Richard Howitt, ao Brasil
Richard Howitt. Foto: Acervo EY.
Para promover a adoção pelas empresas do chamado Relato Integrado, o novo CEO do International Integrated Reporting Council (IIRC), Richard Howitt, chegou ao Brasil na terça-feira, 14, para uma série de encontros com representantes de companhias, órgãos de regulação e entidades que fomentam boas práticas de governança. Baseado em Londres, o IIRC lidera uma iniciativa global para ampliar a adoção do relato integrado, modelo de comunicação dos resultados das empresas que apresenta no mesmo padrão demonstrações financeiras e elementos intangíveis, como capital intelectual, governança e sustentabilidade socioambiental.
A agenda de Howitt no Brasil foi organizada pelo BNDES, que já aderiu ao modelo em seu esforço para ampliar mecanismos de transparência e integra a Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado. Ao adotar essa modalidade de divulgação de resultados, as empresas passam a tratar de forma integrada informações financeiras e não financeiras, como as contempladas geralmente em relatórios de sustentabilidade. Com isso, aumenta a transparência da empresa diante de investidores, fornecedores, clientes, trabalhadores e da sociedade em geral.
Meta de universalização em cinco anos – A meta do IIRC é universalizar o uso do relato integrado em cinco anos, num processo semelhante ao da adoção do padrão IFRS para balanços financeiros. Atualmente, cerca de 1.500 empresas em todo o mundo estão em processo de adoção do paradigma, sendo que trezentas já divulgam resultados sob esse modelo. Entre elas, gigantes multinacionais como GE e Tata Steel. No Brasil, 12 empresas já aderiram, com destaque para BNDES, Itaú Unibanco e Votorantim.
O crescimento dessa modalidade de divulgação de resultados em economias desenvolvidas como as da União Europeia e o Japão tem sido apontado como um fator que reduz o custo de capital e aumenta o valor de mercado das companhias. Isso porque o relato integrado amplia a visão do mercado sobre os riscos e potenciais de uma empresa. A África do Sul é o primeiro país a tornar o modelo obrigatório para empresas listadas em bolsa.
Howitt, que assumiu o cargo no final de 2016, esteve no Brasil entre 14 e 16 de março. Deu palestras e participou de seminários sobre a importância de as empresas se prepararem para essa nova forma de comunicar seus resultados e o impacto que causam na sociedade.
Entre os principais eventos estão um painel no Rio, uma palestra no Seminário Internacional de Acesso à Informação, do Ministério da Transparência, em Brasília, e um grande evento sobre relato integrado no Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo.
O painel no Rio de Janeiro, no auditório da EY, contou com a participação de Tatiana Araujo do CEBDS e Ana Cristina França da Anefac, além da palestra de Richard Howitt.
No seminário realizado na quarta-feira, 15, no Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRC-SP), a coordenadora da Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado e superintendente da Área de Controladoria do BNDES, Vania Borgerth, fez uma palestra sobre o modelo e a experiência do BNDES, que adota o modelo oficialmente desde 2013.
"Ter a coragem de mostrar as fragilidades de uma empresa contribui mais para a sua credibilidade do que apontar só o que dá certo", disse Vania, cuja palestra abriu o evento onde o principal orador foi Howitt. Ele elogiou o trabalho da Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado, que já é a maior entre as que o IIRC mobiliza em vários países. "Estou vendo aqui no Brasil um claro exemplo para as redes de outros países que defendem nossa causa", elogiou Howitt.
Segundo Vania, a crescente difusão do relato integrado tem contribuído para acabar com a ideia de que sustentabilidade é apenas apresentar relatório de responsabilidade ambiental ou social. Trata-se de um processo de transparência mais amplo.
"Empresa sustentável é a que mostra sua fotografia completa, não apenas aquela foto que lhe cai bem, fazendo pose. A empresa só é sustentável quando é capaz de reportar todas as vertentes de informação que o mercado precisa", disse Vania alertando que isso não significa produzir relatórios mais longos. "Excesso de dados não significa mais informação. A melhor forma de esconder uma informação é colocá-la em meio a vários dados irrelevantes".
Biografia – O britânico Richard Howitt assumiu a direção do IIRC em novembro de 2016 após duas décadas como membro do Parlamento Europeu, onde relatou projetos relacionados a governança corporativa e representou a União Europeia junto a organismos multilaterais na discussão de regras internacionais de governança corporativa. Ele atuou na consolidação das diretrizes da União Europeia sobre o tratamento de informações não financeiras pelas empresas, considerada uma das maiores inovações na comunicação empresarial em todo o mundo. Antes de se tornar CEO do IIRC, Howitt atuou como representante da organização em encontros internacionais como a Rio+20. Ele está envolvido com o desenvolvimento do conceito de Relato Integrado desde a origem do IIRC, na edição de 2009 do fórum anual sobre contabilização da sustentabilidade, promovido pelo Príncipe de Gales no Reino Unido. Howitt ainda integra esse fórum, além de grupos de trabalho sobre governança corporativa e desenvolvimento sustentável em organizações multilaterais como ONU, G20, OCDE e UNCTAD.
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