Governo e mercado enxergam valor financeiro que pode sustentar preservação do ambiente
A percepção global sobre a sustentabilidade do que se consome está mudando e a adaptação do setor agropecuário brasileiro às novas exigências é fundamental. A afirmação esteve presente nas falas dos especialistas do primeiro painel dessa quinta-feira (22) sobre Clima e Sustentabilidade no Campo, no quarto dia da Semana BNDES Verde.
Fernando Schwanke, secretário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), destacou que o Brasil tem 20% da biodiversidade mundial e o mundo mostra uma tendência crescente em relação à origem e à forma de produção de alimentos. “Nosso desafio é demonstrar que a agropecuária brasileira está respondendo de forma contundente e convincente a essa demanda e estamos desenvolvendo programas como, por exemplo, o da Agricultura de Baixo Carbono, a Carne Carbono Neutro e o programa Bio Economia Brasil”, afirmou.
Segundo ele, no ministério, a visão é de que não existe agricultura, se ela não for sustentável. “De toda a agricultura brasileira, apenas 2% vem da Região Amazônica e estamos caminhando para que ela seja cada vez mais responsável e sustentável.”
O rastreamento ambiental e o desmatamento para a venda ilegal de madeira foram o tema central da fala de Alexandre Saraiva, superintendente da Polícia Federal do Amazonas. Segundo ele, a maioria da madeira negociada tem origem em manejos ilegais. “É preciso organizar o setor e lidar com a questão fundiária na Amazônia, investir em novas tecnologias que permitam definir a origem daquela madeira e que o inventário florestal, que é onde começa o manejo, seja feito com responsabilidade.”
Alexandre ressaltou que as madeiras da Amazônia, que levam de 400 a 1400 anos para se renovarem, são vendidas a preços bem mais baixos do que os de outras de origem menos nobres devido à extração ilegal. Isso torna inviável a atividade de produtores legais de madeira, disse ele.
Schwanke, do Mapa, destacou que a demanda por alimentos orgânicos tem crescido em todo mundo nos últimos anos: "O mercado norte americano, que é o maior consumidor desse tipo de alimentos, já é responsável por quase U$ 40 bilhões por ano. O Brasil é o quarto maior mercado mundial de produtos de higiene e cuidados pessoais orgânicos, com U$ 30 bilhões comercializados em 2018.”
O Presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Guilherme Cruz de Souza Coelho, frisou a relevância da exportação de frutas brasileiras para o desenvolvimento do país “A cada quatro copos de suco de laranja tomados no mundo, três são feitos com laranjas vindas do Brasil”. Para que a exportação seja possível, as produções de frutas devem seguir diversas certificações de boas práticas de higiene, sociais, protocolos e análises de resíduos.
“Quando falamos do setor agropecuário, fica clara a importância da rastreabilidade e dos aspectos socioambientais para que o Brasil mantenha suas exportações, conquiste novos mercados e valorize cada vez mais seus produtos no mercado externo”, avaliou o gerente da Área de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES, Raphael Stein, que mediou o painel.
SERVIÇOS AMBIENTAIS - A segunda mesa do dia, mediada pelo superintendente da Área de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES, Julio Leite, tratou de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) e o Mercado de Carbono. Para ele, esses mecanismos de compensação financeira pela manutenção dos recursos naturais podem ser usados para direcionar mais financiamentos para quem efetivamente preserva a floresta, na ponta. O tema central foi as iniciativas que viabilizam a remuneração da manutenção da vegetação nativa e da biodiversidade.
O secretário da Amazônia e serviços ambientais do Ministério do Meio Ambiente, Joaquim Leite, falou sobre o Programa Floresta Mais e explicou que o PSA consiste na remuneração de quem cuida e protege a floresta, criando uma nova economia verde. Assim, é possível conseguir o engajamento do mercado privado e que as políticas coorporativas passem a enxergar a conservação da floresta nativa como atividade relevante, contribuindo para a preservação desses territórios.
Para Fabio Olmos, Diretor da Permian Global, o mercado busca certificações com componentes sociais e ambientais, além da aquisição de créditos de carbono, o que gera um ciclo virtuoso na floresta. “O produto mais valioso para o mercado é, justamente, aquele que desenvolve atividades em benefício das comunidades locais.”
Abel Marcarini, da SouthPole, outra empresa que lida com esses títulos em nível global, destacou a importância das florestas brasileiras. Ele lembrou que 30% da chuva que cai em São Paulo depende da Floresta Amazônica. “Assim como a chuva que cai em áreas do agronegócio, por exemplo, que é tão importante para a economia do país, e por isso é tão importante mantermos a floresta em pé.”
SEMANA BNDES VERDE: PROGRAMAÇÃO PARA ESTA SEXTA-FEIRA, 23:
11h às 12h: Energias Renováveis
Moderador: Petrônio Cançado (Diretor – BNDES)
Participantes:
Thiago Barral (Presidente – Empresa de Pesquisa Energética - EPE)
Ítalo Freitas (CEO – AES Tietê)
Rosana Santos (Diretora de Estratégia - Enel)
17h às 18h: Cidades Verdes
Moderador: Pedro Bruno (Superintendente– BNDES)
Participantes:
Marcelo Skaf (CEO - M. Skaf Ambiental - Parques Urbanos)
Marcos Thadeu Abicalil (NDB - Saneamento Básico)
Miguel Noronha (Coordenador do Comitê de Iluminação Pública da ABDIB)