Imagens de satélite: novo recurso para acompanhamento de projetos financiados
Publicado em 26.09.2017
Acompanhar a execução dos projetos financiados, garantindo que os recursos financeiros desembolsados sejam adequadamente aplicados pelos tomadores dos financiamentos, é parte fundamental do trabalho de um banco de desenvolvimento. Para aprimorar os resultados dessa supervisão, além de visitas técnicas periódicas aos locais dos projetos e da conferência de seus documentos financeiros, o BNDES faz uso da análise de imagens de satélite captadas diretamente do espaço.
Os empregados do BNDES André Souto, Ana Maria Bragança e Gumersindo Sueiro integram a equipe responsável pelo gerenciamento das imagens de satélite.
O instrumento é oferecido pela Gerência de Inclusão Produtiva da Área de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES e compreende a aquisição de imagens de satélite da área geográfica do projeto, em diferentes momentos de sua execução, e a elaboração de relatório sobre as alterações no terreno por uma empresa especializada.
A tecnologia vem sendo utilizada, por exemplo, para analisar alterações na cobertura vegetal em projetos de restauração ambiental, para mapear a expansão de áreas de plantio em projetos agrícolas e de silvicultura, e para avaliar a implantação de projetos de infraestrutura, como pequenas centrais hidrelétricas e parques eólicos.

O administrador Gumersindo Sueiro explica que o BNDES dispõe hoje de imagens de satélite obtidas gratuitamente junto a diferentes órgãos, como o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), e de imagens adquiridas de um fornecedor contratado pelo Banco.
A escolha das imagens utilizadas é feita pelo próprio BNDES e depende da natureza do projeto, do período e do tipo de alteração que se deseja analisar, assim como das diferenças em termos de resolução e periodicidade. Já o serviço de análise é realizado por uma empresa contratada, que faz a classificação temática e a detecção das mudanças na área de interesse.
Gumersindo ressalta que a ideia da ferramenta não é substituir o acompanhamento presencial, e sim fornecer mais informações para que os técnicos do BNDES realizem o acompanhamento.
“O relatório pode mostrar que há um lugar onde é preciso aprofundar o acompanhamento que está sendo realizado”, esclarece.
Recuperação florestal
Projetos de recuperação florestal financiados pelo Banco são “clientes” naturais desse instrumento de acompanhamento. As imagens de satélite possibilitam observar mudanças na cobertura vegetal das regiões dos projetos, avaliando se houve aumento de áreas regeneradas (parcial ou totalmente) e se o plantio ocorreu na extensão originalmente prevista.
“Na restauração ecológica de áreas em diferentes biomas brasileiros, esse trabalho de análise das imagens de satélite permite que façamos um acompanhamento mais preciso da área que está sendo objeto do financiamento”, afirma o engenheiro Márcio Macedo.
Ele explica que a ferramenta é fundamental por dois motivos principais: garantir que a área contratada em hectares realmente foi cumprida pelo beneficiário e dar transparência aos resultados dos projetos de reflorestamento. O engenheiro Raul Andrade acrescenta que as operações, muitas vezes, envolvem extensões de terra muito recortadas e com um tipo de cobertura pouco uniforme.
“Por isso, o mapeamento por satélite aumenta significativamente a capacidade de análise do BNDES sobre os projetos, além de permitir que a equipe concentre seus esforços em trechos que as imagens mostram ser problemáticos”.
As imagens abaixo mostram as mudanças ocorridas na área do projeto “Natureza Bela”, que teve como objeto a restauração de 220 hectares de Mata Atlântica no município de Porto Seguro (BA). A análise compara registros feitos no início do projeto, em 2013, e após a sua conclusão, em 2016.
Na primeira imagem, o mapeamento da área indica que há uma grande predominância de cobertura classificada como “campo sujo” (em azul claro), ou seja, como área de vegetação arbustiva ou herbácea.
Após a conclusão do projeto, o cenário muda consideravelmente, boa parte da área passa para a classe de “regeneração parcial” (em verde claro), mostrando que a recuperação de fato ocorreu.
Para avaliar o impacto específico, a análise inclui também uma faixa no entorno do projeto, o que permite confirmar a relação entre o processo de regeneração e o trabalho de restauração desenvolvido pela beneficiária do apoio do Banco.
Todas as operações de financiamento do BNDES desde 2002 (exceto Cartão BNDES) estão disponíveis para consulta no nosso site. Confira os detalhes técnicos dessa operação de financiamento pesquisando por "Natureza bela" aqui.
Operações indiretas
O serviço também está sendo usado pelo Departamento de Acompanhamento de Operações Indiretas, responsável pelo acompanhamento dos financiamentos do BNDES que são realizados com a participação de instituições financeiras repassadoras dos recursos do Banco (caso das operações do BNDES Finame, do Cartão BNDES e do BNDES Automático, por exemplo).
A contadora Paola Berrino explica que sua gerência atua com o objetivo de ratificar a comprovação realizada pelos agentes financeiros repassadores do crédito, verificando os projetos por amostragem. Dado o grande volume de operações (em 2016, foram mais de 500 mil operações indiretas), ferramentas como a análise por imagens de satélite contribuem para que o trabalho seja mais efetivo e contemple uma amostra mais significativa.
Testamos com uma operação de plantio de floresta e uma pequena central hidrelétrica, e o resultado foi muito bom. A equipe responsável pelo acompanhamento não só coleta as imagens, mas também emite, no final do processo, um relatório que mostra como a área era antes, no início do projeto, e como ficou depois. Eles traduzem o mapa”, afirma Paola.
O projeto da Pequena Central Hidrelétrica Pito, localizada em Campos Novos (SC), exemplifica a aplicação do serviço a outros tipos de operação.
Neste caso, o objetivo era analisar a própria implantação da PCH, sem exigir o deslocamento da equipe até o local do projeto. Considerando as datas de início e conclusão da obra, o Banco adquiriu duas imagens de satélite – cobrindo uma área de 100 km² de extensão e com resolução espacial de 1,5m – que serviram de base para a análise.
Na cena 1, observa-se que, em 26.12.2013, a área indicada para instalação da barragem (triângulo em amarelo) possuía ampla cobertura vegetal. A identificação do leito do rio fica mais evidente a partir da imagem em falsa cor, pelo contraste entre a vegetação (em vermelho) e os trechos com água (meandro em cor mais escura no centro da imagem).
Na imagem mais recente (cena 2) é facilmente identificada a barragem construída e o reservatório resultante. A extensão da barragem é de, aproximadamente, 230 metros.
“Pensamos uma maneira de fazer um processo (de acompanhamento) mais inteligente, até para que pudéssemos ter uma escala maior. Fazer esse acompanhamento fisicamente não nos permitiria ganhar muita escala”, conclui Paola.
Todas as operações de financiamento do BNDES desde 2002 (exceto Cartão BNDES) estão disponíveis para consulta no nosso site. Confira os detalhes técnicos dessa operação de financiamento pesquisando por "Pinhal geradora" aqui.
O uso de imagens de satélite no acompanhamento de projetos financiados faz parte de uma iniciativa mais ampla chamada GeoBNDES, que compreende um conjunto de soluções de gestão do território e incorpora ferramentas de inteligência geográfica para apoiar as operações do Banco.
O GeoBNDES foi vencedor do Prêmio ALIDE 2017, na categoria “Gestão e Modernização Tecnológica”, durante a 47ª Assembleia Geral da ALIDE (Asociación Latinoamericana de Instituciones Financieras para el Desarrollo), realizada de 31 de maio a 2 de junho de 2017, em Santiago, no Chile.