Apoiado pelo BNDES, maior parque solar da América Latina abastecerá cerca de 420 mil lares brasileiros por ano
Publicado em 21.12.2017
Projeto da EDF Energies Nouvelles do Brasil, primeiro de energia solar financiado pelo Banco, estimula a produção de energia renovável no país e o desenvolvimento econômico local.
Localizado no norte do estado de Minas Gerais (MG), o complexo solar foi construído em Pirapora, município mais populoso do entorno, com cerca de 53 mil habitantes. Apesar de a cidade ter grande importância econômica – responsável por cerca de 50% do PIB da região –, o seu crescimento econômico e suas taxas de ocupação foram se deteriorando nos últimos anos.
Com o apoio do Banco e capitaneado pela EDF Energies Nouvelles - subsidiária da estatal Eletricité de France (EDF), dedicada ao ramo de energias renováveis, presente em 23 países e líder global em energia renovável, o projeto impulsiona a economia local e, ao mesmo tempo, contribui para a diversificação da matriz energética nacional e representa a concretização de investimentos significativos no setor - da ordem de R$ 940 milhões, dos quais R$ 529 milhões foram financiados pelo BNDES.
Dividido em três fases, sendo que duas operando, o parque será a maior planta solar da América Latina, após a conclusão da terceira fase. Apenas em sua primeira fase, com construção iniciada em outubro de 2016 e finalizada em outubro de 2017, foram instalados mais de 594 mil painéis fotovoltaicos, com capacidade de geração suficiente para abastecer cerca de 200 mil domicílios, em 500 hectares de área ocupada – o equivalente a 700 campos de futebol.
Estima-se que, em sua fase final, o projeto poderá gerar até 400 MWp, abastecendo cerca de 420 mil lares por ano, e promovendo o desenvolvimento de uma ampla cadeia de fornecedores, além da formação de mão-de-obra especializada. Apenas no ápice das obras da primeira fase, foram contratados cerca de 1.000 trabalhadores, dos quais mais da metade era de moradores da região.
Para Paulo Abranches, CEO da EDF EN do Brasil, “o país é um importante e estratégico mercado para o Grupo EDF, uma vez que conta com recursos naturais (vento e sol) em abundância e em um território continental, além de ter um mercado com grande demanda energética e um ambiente regulatório favorável para a expansão das energias.”.
Além da geração de empregos, outro benefício está ligado ao desenvolvimento socioeconômico no entorno da usina solar. O financiamento do BNDES incluiu um subcrédito social de R$ 2,6 milhões, destinado a projetos escolhidos em função das necessidades locais, definidas pela EDF EN em conjunto com a sociedade civil e a administração pública local.
Prioridade para a energia solar no apoio do BNDES à geração de energia elétrica
A inauguração da primeira fase do Complexo de Pirapora representa um passo importante para a concretização da política construída pelo BNDES para a energia solar. O Banco possui condições de financiamento bastante atrativas para projetos de geração solar e energias renováveis, que incluem maior percentual de participação (que pode ter até 80% do valor do empreendimento financiado), menor valor mínimo para operações diretas, além de taxas e prazos favoráveis.
Segundo ele, a expansão da energia solar no país deve trilhar caminho similar ao que ocorreu com a geração eólica. “A energia eólica teve seus primeiros leilões em 2004 e começou a ser apoiada pelo Banco em 2009. Desde então, todo ano apoiamos novos projetos. Imaginamos o mesmo caminho para energia solar”.
Já em relação aos requisitos de conteúdo local do projeto, a administradora do BNDES, Paula Seara, apontou que, antes de começar a apoiar os projetos do setor, o Banco realizou, em parceria com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), inúmeras reuniões com fabricantes mundiais, empreendedores e investidores com o objetivo de analisar o mercado no Brasil e identificar quais componentes poderiam ser obrigatoriamente nacionais. “A partir desse diálogo, o BNDES estabeleceu uma metodologia que permite inicialmente que vários componentes sejam importados, desde que montados no Brasil, mas aos poucos vai aumentando a exigência de nacionalização”, explicou.
“O padrão do Banco é de 60% de conteúdo local, porém na energia solar há uma política de ir avançando gradualmente em marcos produtivos. É preciso montar o módulo no Brasil, o tracker e a parte de cabeamento e estrutura metálica. O financiamento aos projetos será maior quanto maior for o grau de absorção da produção local, respeitada a capacidade de pagamento dos projetos”, acrescentou Marcus.
O pioneirismo da iniciativa trouxe também alguns desafios na etapa de avaliação de risco da operação. O economista Diogo Lara, da área de Crédito do Banco, comentou que a classificação de risco de crédito do projeto demandou maior esforço para o entendimento das características de produção de energia a partir da tecnologia fotovoltaica e de seus riscos associados, exigindo a busca de referências externas, como o Guia elaborado pelo International Finance Corporation (IFC), e o diálogo entre a equipe da gerência.
“Enxergamos alguns desafios específicos durante a análise deste projeto. Um deles era a grande quantidade de painéis que seria fabricada em uma planta recém-inaugurada. Outro, a falta de dados, em quantidade e janela de tempo suficientes, no Brasil e até em nível mundial, comparando a efetiva produção com a estimativa prévia de geração, calculada a partir dos estudos solarimétricos e das taxas esperadas de performance das placas fotovoltaicas. Por último, a taxa de degradação da performance das placas é um fator diferente de risco a ser considerado quando comparado a outros projetos de geração de energia elétrica”, detalhou.
Energia solar ganha espaço com avanços tecnológicos e custo mais competitivo
Oitavo consumidor de energia no mundo, o Brasil representa o maior mercado da América Latina no que diz respeito ao desenvolvimento de energias renováveis. Quase 75% da produção energética nacional provêm de fontes verdes.
O setor deu seus primeiros passos ao final de 2014, com a realização da primeira contratação para fonte solar em um leilão federal de energia elétrica. No ano seguinte, mais dois leilões ocorreram, abrindo espaço para novos investidores e para o crescimento da geração centralizada. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que a fonte chegue a uma capacidade total de 7 GW até 2024, o que representaria 3,3% da matriz elétrica brasileira.
Entretanto, a geração de energia elétrica a partir da luz do sol tem algumas singularidades. Em primeiro lugar, como depende da irradiação solar, ela tem um caráter naturalmente intermitente, seja pela impossibilidade da produção durante o período noturno como pela dificuldade de prever efeitos de mudanças meteorológicas, como sombreamento por nuvens.
Assim, a previsão do montante de energia a ser gerado por uma usina como a de Pirapora depende de estudos prévios de incidência da irradiação solar na região, que levam em conta efeitos de sombreamento e perdas com transmissão para calcular a quantidade energia que será produzida, trabalhando com cenários mais ou menos favoráveis.
No Brasil, o pico do consumo de energia ocorre de tarde, o que coincide com o pico de produção da energia solar. Outra vantagem, em comparação com a energia eólica ou hidráulica, é que a irradiação solar está mais espalhada pelo país, permitindo a implantação de projetos solares em vários estados, muitas vezes mais próximos dos centros de consumo. Essa é uma das vantagens competitivas da energia solar, pois ela reduz as perdas e os investimentos necessários em transmissão.
Exemplo disso é que o projeto do Complexo de Pirapora contempla a construção de uma linha de transmissão com apenas 11 km, que conecta a usina ao Sistema Integrado Nacional (SIN) pela subestação já existente em Pirapora. A extensão da linha permite que ela seja montada com somente 36 torres e passe por um número mais reduzido de propriedades, com menores custos para a empresa.
Os constantes avanços tecnológicos do setor nos últimos anos – como na qualidade dos painéis fotovoltaicos e de equipamentos como trackers e inversores - também vêm ampliando o espaço da geração solar. “É uma energia que tem uma promessa de, com o avanço tecnológico, ter um custo muito mais econômico e competitivo no futuro. Nos últimos anos o custo diminuiu significativamente, cerca de três ou quatro vezes”, destacou Abranches.
GLOSSÁRIO DA ENERGIA SOLAR:
Geração Centralizada - É a geração de energia realizada por usinas que têm outorga do Governo Federal. Com base em estudos da demanda energética do país, são realizados leilões para a contratação das empresas geradoras. A energia produzida alimenta o Sistema Integrado Nacional (SIN), sendo distribuída para o país.
Geração Distribuída – É a geração a partir de plantas de no máximo 5 MW, de micro e mini geração. A energia excedente é cedida à distribuidora local e posteriormente compensada com o consumo de energia elétrica dessa mesma unidade consumidora, ou de outra unidade consumidora de mesma titularidade. Residências ou empreendimentos comerciais que contam com painéis solares são exemplos desse tipo de geração.
Painéis solares – Captam a luz do sol para produzir energia a partir de células fotovoltaicas de silício.
Inversor solar – O equipamento tem como principal função inverter a energia elétrica gerada pelos painéis, de corrente continua (CC) para corrente alternada (CA). Ele também garante a segurança do sistema e mede a energia produzida pelos painéis solares.
Trackers – Esses equipamentos rastreiam a posição do sol e permitem que os painéis sejam direcionados automaticamente para acompanhar o seu movimento, gerando ganho no fator de capacidade. Os trackers são autoalimentados, o que significa que não consumem a energia gerada pela planta.
Subestação elevadora – Eleva a tensão da energia gerada no parque para que ela possa atingir a tensão da rede. Em Pirapora, foi construída uma subestação elevadora como parte do parque.
Saiba mais sobre a atuação do BNDES no apoio ao desenvolvimento da infraestrutura.