Terapia fotodinâmica revoluciona diagnóstico e tratamento do câncer de pele mais comum no Brasil
Publicado em 26.03.2018
Em fase final de testes, uma terapia desenvolvida no Brasil, pelo Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP), vem permitindo não só diagnosticar como tratar pacientes com câncer de pele não-melanoma, em uma única sessão, com 95% de sucesso. Mais incidente na população de baixa renda, esse é o tipo de câncer mais comum no país, correspondendo a 30% de todos os tumores malignos registrados, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
O BNDES está apoiando com R$ 3,2 milhões a realização dos procedimentos necessários para que a terapia fotônica, como foi batizada, seja utilizada em escala comercial e no sistema público de saúde: comprovação clínica dos resultados em larga escala, treinamento de equipes médicas, desenvolvimento do medicamento fotossensível e aquisição dos equipamentos ópticos.
“O tratamento não tem efeitos colaterais, é do tipo ambulatorial, de fácil treinamento, com resultados rápidos, tem efetividade comparável à da cirurgia sem a necessidade de hospitalização e é significativamente mais barato que os tratamentos oferecidos no exterior”, explicou o professor e pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) Vanderlei Salvador Bagnato, líder do estudo que levou à criação da terapia fotônica, também chamada de terapia fotôdinâmica.
O BNDES Funtec, dedicado a apoiar projetos de pesquisa científica aplicada, destinou R$ 3,2 milhões ao desenvolvimento da terapia, que consiste na aplicação de uma pomada sobre a lesão, deixando-a sobre a pele durante, aproximadamente, 2 horas. Em seguida, o dermatologista remove o medicamento e aplica um feixe de luz na região por 20 minutos. Por meio de um processo de fotorreação, as células cancerosas são eliminadas, preservando o tecido sadio.
lnstituição tecnológica e empresas de P&D se aliam no desenvolvimento da terapia
Duas empresas aliaram-se ao IFSC-USP no desenvolvimento da terapia, que já foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e pela Sociedade Brasileira de Cancerologia.
A empresa MM Optics, fabricante de equipamentos ópticos e optoeletrônicos de precisão, de São Carlos (SP), que também contou com apoio do BNDES, atuou na montagem do protótipo do equipamento para diagnóstico por fluorescência óptica e tratamento por terapia fotodinâmica, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e na elaboração dos princípios ativos ALA e Metil-ALA presentes na pomada usada em conjunto com o equipamento.
Já a tecnologia de produção industrial do princípio ativo–em fase final de aprovação pela Anvisa – ficou a cargo da PDT-Pharma, empresa de pequeno porte brasileira, única na América Latina a produzir princípios ativos fotoativados.
Do laboratório aos consultórios
“Por meio do projeto, foram distribuídos equipamentos e fármacos para 100 Centros de Saúde em todo o país, onde foram realizados treinamentos com mais de 250 médicos dermatologistas. O ensaio clínico multicêntrico, com um grande número de pacientes, é necessário para conseguir o registro dos órgãos de saúde e a permissão para uso comercial em larga escala como método válido terapêutico”, explicou Renata Gomes, engenheira do BNDES que participou da estruturação da operação de financiamento.

Além dos hospitais, ambulatórios e clínicas no Brasil, 9 países da América Latina estão associados ao projeto e acumulam casos de sucesso: Equador (30 lesões), Colômbia (23) e Chile (8). Só no Centro de Referência, no Hospital Amaral Carvalho de Jaú, em São Paulo, foram mais de 2 mil lesões tratadas, e 40 grupos de médicos, treinados. A taxa de sucesso da terapia, até o momento, é de 95%.
Oferta do tratamento à população pelo SUS

Para que um novo medicamento, procedimento, equipamento seja incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS), a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) avalia se a tecnologia é tão boa ou melhor que as já existentes. Nesse processo, o Conitec leva em consideração estudos científicos, benefícios para o paciente e os custos envolvidos.
Atualmente, a equipe de pesquisadores da USP está preparando um dossiê para a Comissão contendo os resultados dos ensaios clínicos, comparando a efetividade da terapia fotônica frente à alternativa cirúrgica.
“Uma das grandes finalidades desse projeto é que o SUS incorpore essa tecnologia e ofereça a toda a população. O volume de dados clínicos coletados comprovam a segurança e eficácia da terapia e a excelente relação custo-efetividade do tratamento para o setor público”, apontou Gustavo Mejdalani, contador do Banco que também faz parte da equipe responsável pelo apoio à iniciativa.
De acordo com o INCA, entre os fatores de risco para o câncer de pele, estão: a ocupação, quando exige atividades ao ar livre, o local de residência, especialmente em áreas rurais, e o desconhecimento do indivíduo quanto ao risco da exposição solar.
“Esse projeto tem um cunho social relevante, pois atinge pessoas de renda mais baixa, sem acesso à proteção e cotidianamente expostas ao sol. Daí o mérito de apoiar uma terapia que tem efetividade comparável às alternativas existentes a um custo muito mais barato, ampliando o acesso das pessoas, gratuitamente”, conclui Renata.
É o câncer mais frequente no Brasil, representa 30% de todos os tumores malignos registrados no país. Apresenta altos percentuais de cura, se for detectado precocemente. Entre os tumores de pele, o tipo não-melanoma é o de maior incidência e mais baixa mortalidade. Em 2016, o Inca estimou em mais de 175 mil os novos casos, sendo quase 90 mil em homens e 95 mil em mulheres. Últimos dados registrados pelo instituto revelam que, em 2013, foram 1.769 mortes por câncer de pele, sendo 1000 homens e 769 mulheres.
“A grande exposição solar e alta incidência câncer de pele no Brasil aliada ao fato de que, embora eficaz, a terapia fotônica não é tão conhecida por centros de saúde e dermatologistas tornam esse projeto ainda mais significativo. O fato de o Brasil ter desenvolvido seu próprio medicamento e luz vai facilitar o acesso a médicos brasileiros e seu uso em larga escala”, afirmou a professora Maria Cláudia Issa, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, que participou do projeto e conduziu ensaios clínicos da nova técnica no Hospital Universitário Antônio Pedro.