Tese de Impacto de Investimento em Projetos (Tiip)
No âmbito da primeira camada do Sistema de Promoção de Efetividade do BNDES (avaliações sistematizadas no ciclo do apoio financeiro), a instituição desenvolveu uma ferramenta que organiza os efeitos esperados de cada projeto por meio de uma análise qualitativa, a Tiip.
A metodologia está em etapa de testes e sendo submetida à validação interna e externa com apresentação de nova versão prevista ainda para 2017. Baixe o Texto para Discussão 116/2017 (sumário executivo) e saiba mais sobre a Tiip.
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O que é a Tiip?
A Tese de Impacto de Investimento em Projetos (Tiip) é uma metodologia de abordagem não financeira, de fácil visualização e acompanhamento, e customizada para a realidade do BNDES. Seu objetivo é explicitar os benefícios esperados de cada projeto submetido à decisão de apoio financeiro, conforme as múltiplas dimensões do desenvolvimento.
Por se tratar de método estruturado de avaliação qualitativa, a Tiip requer supervisão sistemática para seu aperfeiçoamento. Por isso, seu plano de desenvolvimento contempla o acompanhamento:
- das aplicações e necessidades de ajustes; e
- de resultados para melhoria de referências analíticas.
Quais são os critérios usados na Tiip?
A metodologia atua sobre um escopo de avaliação das seguintes dimensões:
Economia Nacional
O apoio do BNDES contribui de diversas formas para alterar o produto agregado potencial, condição necessária do processo de desenvolvimento. Projetos financiados pelo BNDES podem resultar ainda em incremento da produtividade média e da complexidade da economia. São critérios na avaliação da dimensão Economia Nacional:
Capacidade produtiva, produtividade e complexidade econômica
Explicita o impacto positivo esperado sobre essas variáveis. Alguns atributos do projeto proporcionam transbordamentos diferenciados, tais como: difusão de progresso técnico, plantas pioneiras, potencial de alteração de estruturas de mercados ou estar em setor deficitário na balança comercial.
Inovação
É importante vetor do desenvolvimento econômico. Para efeitos da Tiip, os projetos são classificados conforme as entregas previstas, a intensidade do esforço inovativo alocado e a formação de competências.
Infraestrutura
Explicita os efeitos esperados do investimento em infraestrutura, fundamental para ganhos sustentados de competitividade da economia, com destaque para a redução de gargalos estruturais.
Exportação
Avalia o impacto do projeto no incremento de exportações setoriais, de modo a explicitar ganhos de competitividade adicionais para a economia (diversificação de produtos e mercados), já que empresas exportadoras tendem a ser mais produtivas e tecnologicamente mais dinâmicas.
Fornecedores
Efeitos de encadeamento influenciam a diversificação da estrutura produtiva e o crescimento do produto. A adição de elos intensivos em tecnologia em cadeias contribui para o aumento da complexidade econômica do país.
Educação e cultura
A Tiip destaca este critério, considerando tanto a ampliação do nível geral de conhecimento do país quanto seu potencial de difusão, ainda que por meio de ações voltadas à potencialização do ensino formal.
Ambiental
A avaliação de aspectos ambientais abrange desafios significativos, que vão, desde a compreensão dos impactos ambientais dos diferentes projetos até a priorização dos diversos benefícios possíveis. Para tanto, recorreu-se às experiências do IFC e do Banco Mundial para a construção da Tiip, adaptando métricas e conceitos. São critérios:
Impactos negativos
Impactos do projeto e práticas de responsabilidade socioambiental (RSA) da empresa considerando: (i) consumo de água e de energia; (ii) emissões atmosféricas, de efluentes líquidos ou de resíduos sólidos; e (iii) alteração de ecossistemas,.
Contribuições do projeto
Benefícios do projeto para a solução ou mitigação de um ou mais problemas ambientais. As contribuições são diferenciadas entre aquelas que têm impacto imediato ou não; as que trazem benefícios de primeira ordem (diretamente decorrente do projeto) ou de segunda ordem (indireto ou induzido pelo projeto); e as que têm alcance restrito ou abrangente.
Regional
O Brasil caracteriza-se por uma intensa concentração espacial de população e atividades econômicas, o que perdura apesar de avanços observados nos anos 2000. A lógica de avaliação é a melhoria da atratividade das localidades para pessoas e atividades econômicas (centralidade) e a redução das desigualdades regionais, com foco nos efeitos exclusivamente econômicos ocorridos sobre um recorte espacial definido. São critérios:
Atividades induzidas relacionadas ao local do projeto
Avalia o investimento conforme sua localização, independentemente do tipo de projeto, e visa captar benefícios como a ampliação da arrecadação tributária e o surgimento de atividades induzidas no território. Dada a dificuldade de mensuração e identificação dessas variáveis, optou-se por adotar a divisão por renda das microrregiões do país como uma proxy desses efeitos. O potencial do investimento é maior se localizado em uma cidade média, cuja região de influência é de baixa renda, considerando-se sua maior capacidade de afetar a concentração espacial do Brasil. Nas metrópoles, o impacto do projeto é reduzido e contribui para reforçar o padrão de concentração.
Impacto direto por tipo de projeto
Avalia a ocorrência de economias de aglomeração proporcionadas pelo projeto, conceito-chave para esse critério, e seus efeitos sobre a centralidade. É observada a capacidade da localidade, em decorrência do tipo de projeto, para reter população e possibilitar o surgimento de atividades produtivas mais nobres e complexas, tornando seu desenvolvimento espacialmente endógeno. É considerada a capacidade do empreendimento para organizar e estruturar o território ou promover sua diversidade produtiva.
Cliente
Há, na carteira do BNDES, clientes de diferentes portes e tipos, diversidade que impõe o desafio de ampliar os benefícios para a sociedade e o desenvolvimento econômico via apoio financeiro a esses agentes. Essa avaliação decorre da percepção do impacto do projeto a cada perfil de cliente e sobre seus capitais intangíveis, considerando que a ampliação da competitividade dos postulantes beneficia a competitividade de toda a economia. São critérios:
Capacidade de oferta de bens e serviços
Avalia os benefícios para a ampliação da competitividade ou eficiência na oferta de bens e serviços, segmentados em quatro tipos de clientes, cada um com lógica de avaliação própria (setor privado; serviços públicos e concessões; administração pública; entidade sem fins lucrativos).
Práticas de gestão
Identifica os benefícios esperados em melhores práticas de gestão, tais como governança corporativa e responsabilidade socioambiental, tendo como referência a Metodologia de Avaliação de Empresas (MAE), desenvolvida pela instituição.
Como é feita a avaliação de um projeto, segundo a Tiip?
Cada quesito é construído em uma escala cujos níveis se sucedem desde a alternativa menos desejada (normalmente um impacto neutro ou negativo) até a alternativa mais desejada (usualmente um impacto muito positivo).
A nota final de uma dimensão é apresentada em uma escala qualitativa e decorre da composição das notas atribuídas a seus diferentes critérios e dos pesos a eles associados. O resultado final de 1 a 5, uniforme para todas as dimensões, garante a interpretação imediata dos benefícios de cada projeto e permite a comparação entre as dimensões e diferentes intervenções.
Como se chegou a esta metodologia?
Métodos diversos de avaliação qualitativa adotados por instituições financeiras e de desenvolvimento foram pesquisados e serviram de inspiração para a construção da Tiip. Tomando como base tais referências, a Tiip foi concebida a partir de cinco dimensões de avaliação (formada por diferentes critérios) consideradas chave para explicitar a contribuição de projetos de investimento para o desenvolvimento.
A elaboração dos critérios foi baseada em referências disponíveis na literatura, no histórico de operações e nas bases de dados de projetos que o analista do BNDES deve examinar.
Quais as vantagens e desvantagens da Tiip?
Vantagens | Desvantagens |
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Por que criamos a Tiip?
O BNDES deve, como banco de desenvolvimento, preocupar-se em preservar sua sustentabilidade financeira, respeitar princípios bancários e regras de regulação, e zelar pela boa gestão dos recursos públicos enquanto fomenta e promove o desenvolvimento com base nas prioridades definidas em sua missão, que é
Promover o desenvolvimento sustentável e competitivo da economia brasileira, com geração de emprego e redução das desigualdades sociais e regionais.
O enquadramento de operações do BNDES é etapa-chave do processo de apoio financeiro, já que envolve uma análise preliminar normativa e de mérito de cada projeto. Essa análise é entendida como a avaliação da contribuição do projeto ao desenvolvimento sustentado brasileiro e à própria concretização da missão do BNDES. A Tiip foi criada para ser um instrumento qualitativo auxiliar à tomada de decisão de apoio financeiro, capaz de reconhecer os efeitos esperados de projetos de investimento.
Portanto, ao explicitar os resultados esperados da intervenção e os critérios usados para a tomada de decisão, a Tiip responde à legítima demanda da sociedade por maior transparência das instituições públicas. Ainda, a Tiip vem complementar um ciclo de gestão no BNDES que engloba o planejamento estratégico, a definição de prioridades e a avaliação de sua atuação.