Artigo "Por que faz sentido o BNDES apoiar projetos no exterior"
Artigo da superintendente da Área de Comércio Exterior, Luciene Machado, e do chefe do Departamento de Comércio Exterior do BNDES, Luiz de Castro Neves, sobre o apoio do BNDES a projetos de infraestrutura no exterior, publicado em 17 de abril de 2014.
Leia aqui a versão fac-símile e abaixo a transcrição na íntegra:
Valor Econômico (17/04/2014)
Por que faz sentido o BNDES apoiar projetos no exterior
Recursos do banco são desembolsados diretamente ao exportador.
Por Luciene Machado e Luiz de Castro Neves
O apoio do BNDES a projetos de infraestrutura no exterior tem sido objeto de intenso debate. Nessa discussão, a principal crítica à atuação do banco está fundamentada num falso dilema entre financiar projetos no Brasil ou no exterior. Enganam-se aqueles que defendem que limitar ou extinguir as ações do BNDES para além de nossas fronteiras poderia beneficiar nosso país e as empresas que nele atuam, como se apoiar exportações e gerar desenvolvimento para os brasileiros fossem coisas excludentes. De imediato, os efeitos nocivos viriam com a redução de exportações de alto valor agregado e menos exposição das empresas brasileiras ao mercado global. Como o assunto vem sendo abordado de maneira distorcida, é importante explicar o foco dos financiamentos a projetos no exterior.
O apoio do BNDES tem como objetivo viabilizar a exportação de bens e serviços brasileiros, ou seja, conteúdo nacional, que gera emprego e renda no Brasil. Os recursos são desembolsados diretamente ao exportador, no Brasil e em reais. Não há, portanto, remessa de divisas ao exterior. Pelo contrário, contribui para o ingresso de divisas nas empresas baseadas em território nacional. Falacioso apontar carências e demandas no plano doméstico como fatores que deveriam inibir a ação internacional do banco. Isso porque os efeitos multiplicadores das exportações sobre o emprego e a renda são amplamente reconhecidos e ainda mais pronunciados no caso de bens e serviços como maior valor agregado e conteúdo tecnológico (máquinas e equipamentos, software, aeronaves, serviços de engenharia e construção etc), que costumam movimentar uma extensa cadeia de fornecedores no Brasil.
Os principais benefícios da internacionalização são sentidos no Brasil. Para as empresas, a inserção internacional representa não só a oportunidade de ampliar sua produção e obter economias de escala, mas também de diversificar sua carteira de clientes e mitigar riscos. Obter sucesso no mercado externo, onde a competição é mais acirrada requer produtos de qualidade e preços competitivos e capacidade de absorver e desenvolver novas tecnologias. Já o mercado interno se beneficia não só dos impactos favoráveis sabre emprego e renda, mas também dos ganhos na qualidade dos bens e serviços disponíveis aos consumidores, usualmente a preços decrescentes. Basta lembrar dos automóveis comercializados no país na década de 80.
Neste sentido, o Brasil atua de modo análogo à maioria dos países, já que o apoio às exportações por meio de instituições estatais é parte de estratégia nacional para promover o desenvolvimento. O processo de concorrência internacional é um forte ambiente seletivo e o apoio oficial é usado por governos para auxiliar as empresas de seus países. A intensidade da competição no mercado externo é suficiente para eliminar as que não apresentem formas de financiamento adequadas para sua atuação. Além disso, é consensual a visão de que um setor exportador forte é um importante mitigador de vulnerabilidade externa. Vale lembrar que superávits comerciais apurados nos últimos anos permitiram ao Brasil acumular reservas cambiais que se mostraram instrumentais para diminuir os impactos da crise que se arrasta desde 2008.