Construída com o apoio do BNDES, nova unidade da Fibria vai produzir 1,95 milhão de toneladas de celulose por ano
Publicado em 08.01.2018
Segundo maior produtor mundial de celulose, o Brasil tem sido favorecido pelo bom momento pelo qual passa o mercado internacional dessa matéria-prima, aquecido em função sobretudo do consumo chinês e europeu. Acompanhando esse cenário, a Fibria construiu, com apoio do BNDES, uma unidade industrial em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, que entrou em operação em agosto de 2017, tendo gerado 40 mil empregos diretos e indiretos durante as obras, quase 1 mil postos de trabalho permanentes, além de ter sido associada a ações na comunidade do entorno do projeto.
Foto: Fábrica em atividade, emitindo vapor limpo. Crédito: Gustavo Duarte.
A unidade tem capacidade para produzir 1,95 milhão de toneladas de celulose de fibra curta por ano a partir de árvores de eucalipto. Esse tipo de celulose, de fibra curta, é usado na produção de papéis de imprimir, de escrever e sanitários – como papel higiênico, toalhas de cozinha, lenços e guardanapos.
A iniciativa incluiu ainda um viveiro 100% automatizado, capaz de gerar 40 milhões de mudas de eucalipto por ano e a aquisição de vagões e locomotivas para escoamento da produção até o porto de Santos (SP), contando, até o momento, com aporte de R$ 1,36 bilhão do BNDES, valor este que pode chegar a até R$ 2,4 bilhões, conforme previsão do contrato de financiamento. O projeto da nova fábrica teve seu valor total estimado em R$ 7,5 bilhões e conta com fontes diversificadas de recursos, como bancos comerciais e mercado de capitais. Todos os financiamento do BNDES desde 2002 (exceto Cartão BNDES) estão disponíveis para consulta no nosso site. Confira os detalhes técnicos dessa operação pesquisando por "Fibria" aqui.
Incentivando a participação de fornecedores brasileiros
Um dos destaques do projeto da Fibria, em relação a outros do setor de celulose já apoiados, foi o esforço feito pelo Banco, em parceria com a empresa, para abrir espaço aos fornecedores de equipamentos nacionais.
Antes do início do projeto, nós realizamos um workshop reunindo diversos fornecedores em uma das unidades da Fibria. Entendemos que o nosso desafio é tentar sempre maximizar o fornecimento de equipamentos nacionais em grandes projetos, porque a concorrência com fornecedores estrangeiros é muito forte”, explica o contador do BNDES Alexandre Villar.
Eduardo Christensen, economista do BNDES, complementa: “no workshop, tiramos as dúvidas dos fornecedores sobre as condições de financiamento do BNDES para este projeto, a fim de que eles pudessem apresentar suas propostas. E o resultado foi bastante positivo. Se a gente comparar com projetos anteriores do setor de celulose, o número de equipamentos ou sistemas que conseguimos credenciar e aprovar na Finame [produto do BNDES para financiamento à produção e aquisição de máquinas e equipamentos nacionais cadastrados] foi bastante satisfatório. E, assim, estamos contribuindo para desenvolver a indústria nacional”.
Geração de empregos e arrecadação de impostos
Dados de auditorias contratadas pela Fibria estimam que, ao longo do processo de construção e implantação da fábrica, a geração de postos de trabalho chegou a 40 mil, incluindo empregos diretos, indiretos e em toda a cadeia produtiva.
Durante o pico da obra, cerca de 10 mil pessoas trabalharam simultaneamente na construção. Já para a operação permanente da nova linha foram gerados 988 empregos diretos, sendo 144 na operação industrial e 844 na florestal. Eduardo ressalta que o emprego na floresta ajuda a fixar parte da população no campo, evitando o deslocamento para as grandes cidades.
Estão previstos, ainda, cerca de 2 mil postos de trabalho, somados os empregos indiretos e os que serão gerados na cadeia produtiva.
Foto: Funcionárias trabalham na produção de mudas. Crédito: Gustavo Duarte.
Outro ponto ressaltado por Eduardo: “a arrecadação de impostos durante a construção deve chegar a R$ 450 milhões de reais. É um volume bastante expressivo para a região de Três Lagoas e para o estado do Mato Grosso do Sul. Este é um dos maiores projetos privados em execução no Brasil. Foram mais de 300 fornecedores diferentes para o projeto, entre brasileiros e estrangeiros e, destes, 60 foram fornecedores locais, o que é bastante interessante, porque a região é pequena”.
Preocupação com o meio ambiente
No que diz respeito à questão ambiental, Eduardo ressalta que a Fibria atua de forma responsável: “para se ter uma ideia, a água que a empresa devolve ao rio depois do uso é sempre muito mais limpa que a água captada. Ela tem a maior estação de tratamento de efluentes do Brasil”.
A empresa também conta com uma moderna caldeira de recuperação, que tem por função recuperar os componentes químicos utilizados no processo de produção e gerar vapor e energia elétrica. Com isto, a unidade se tornou autossuficiente em energia, gerando excedente para venda.
Para atender à demanda da sua nova linha de produção, a Fibria precisará de mais de 40 milhões de mudas de eucalipto/ano. Por isto, a unidade de três Lagoas conta com o mais moderno viveiro de eucalipto do mundo, viabilizado com o financiamento do BNDES.
As mudas são transportadas automaticamente e possuem identificação rastreável, o que permite o acompanhamento do trajeto durante todo o processo de produção.
O sistema de irrigação é automatizado. Uma estação meteorológica monitora o clima e garante o fechamento automático de tetos retráteis, protegendo as mudas de um excesso de chuvas ou qualquer outro tipo de intempérie. Essa estação também mede a intensidade da energia solar no viveiro para controlar a exposição das mudas ao sol.
A tecnologia foi desenvolvida a partir da observação dos viveiros de flores holandeses que, embora de menor porte, são totalmente automáticos. Eduardo destaca que “este é o viveiro de mudas mais inovador do mundo, o que concorre para o aumento da produtividade da empresa”.
Foto: Vista aérea do viveiro, cercado pela plantação de eucalipto. Crédito: Gustavo Duarte.
Projetos sociais: diversificação e perenidade são os objetivos
O empreendimento recebeu R$ 12 milhões do BNDES para aplicação em projetos sociais. De acordo com Alexandre, “parte dos recursos vai para projetos de geração de renda, parte para educação, saúde e segurança pública. Como o volume de recursos é considerável, nossa preocupação é diversificar a atuação social e mitigar o impacto social”.
O gerente também enfatiza que a equipe do BNDES responsável pelo apoio ao projeto levou em conta a continuidade dos projetos sociais a serem apoiados pela empresa: “não adianta colocar recursos em projetos que não contem com o envolvimento da comunidade e do poder público, pois o investimento será desperdiçado”.
Uma das preocupações foi a possível pressão migratória sobre a região, devido ao porte do empreendimento. Como Eduardo explica, “em um projeto desta envergadura, há a tendência de que muitas pessoas se desloquem para a cidade e acabem permanecendo nela após a obra. Então, nós avaliamos como estava a política de treinamentos e de aproveitamento de mão de obra local da empresa. Segundo dados da Fibria, foram realizadas 890 mil horas de treinamento”.
Outro desafio importante, segundo o Eduardo: uma grande obra de construção civil atrai uma população significativa de homens sem família, podendo gerar um aumento do índice de violência contra mulheres, crianças e adolescentes na região. Para mitigar o problema, os operários foram instalados em casas e hotéis, evitando a hospedagem em grandes alojamentos, que podem favorecer o surgimento de comportamentos violentos. Também foram desenvolvidos projetos educativos em parceria com o Mistério Público – como palestras dos promotores públicos e de pessoas ligadas ao setor.
Na área da saúde, a empresa equipou hospitais locais, que, além de absorverem a demanda gerada no período das obras, passaram a contar com melhor estrutura para atendimento à comunidade.
Foto: Um dos equipamentos de saúde adquiridos com recursos do BNDES. Crédito: Gustavo Duarte.
Entre os projetos sociais apoiados com os recursos do BNDES está, ainda, o Programa de Desenvolvimento Rural Territorial - PDRT, de fomento à agricultura familiar. Voltado para os pequenos proprietários, o programa oferece apoio técnico e de infraestrutura para o plantio de subsistência e a venda do excedente. Caso a família não possua a terra necessária, a empresa a disponibiliza em regime de comodato.
O mercado internacional de celulose está em expansão, principalmente quando se fala de celulose de fibra curta - produzida a partir de eucalipto, como a da Fibria.
Como Eduardo explica, “a demanda por celulose aumenta em uma linha sempre crescente, com angulação não muito alta. Já a oferta vai crescendo em degraus: uma capacidade adicional de produção gera uma pequena pressão no preço e, aos poucos, a produção vai sendo incorporada”.
Alexandre destaca que as empresas brasileiras são as mais competitivas do mundo na produção de celulose: “isto ocorre em função do investimento que vem sendo feito há décadas em melhoramento florestal. A grande competitividade nesse setor está na floresta”.
A celulose produzida pela Fibria é destinada principalmente ao mercado asiático. Cerca de 50% do volume a ser exportado deverá ser utilizado na produção de papéis para fins sanitários.
Foto: Toras de madeira no pátio da fábrica. Crédito: Gustavo Duarte.